O QUE FAZEMOS
HONEST BROKER
Artigo escrito por Eduardo Marson Ferreira e publicado na Revista Força Aérea
Em 2015, o Ministério da Defesa inglês (MoD) procurava explicações do porquê ficara para trás no quesito inovação, que por décadas tinha sido uma marca registrada daquela instituição. E para o diagnóstico, contratou a Rand Corporation Europe, filial da organização americana de mesmo nome no velho continente.
Organizações como Rand, MITRE e SAIC, de apoio à gestão pública, desenvolvimento tecnológico e resolução de problemas complexos da administração dos EUA, começaram a florescer entre o final dos anos 40 e durante a década de 50, em parte pela dissolução do monopólio da telefonia americana e a consequente pulverização dos famosos Bell Labs. Mas também se formaram a partir de laboratórios de grandes universidades e centros de pesquisa americanos, como o MIT (MIT Research, ou simplesmente MITRE) e o Jet Propulsion Lab, este ligado à NASA.
Essas entidades têm em comum o fato de serem todas not for profit, sem fins lucrativos numa tradução direta que no português não se diferencia do non-profit (ONGs). E por serem organizações livres de conflito de interesses, por manterem uma equidistância saudável entre governo, empresas industriais e de serviços (fornecedoras, portanto) e a academia, instâncias que normalmente defendem seus pontos de vista particulares inerentes às suas atividades (lucro, pesquisa universitária, tecnologias proprietárias).
Tais centros iniciaram suas atividades no pós-guerra para responder a necessidades militares. Procuravam atrair as melhores mentes científicas, proporcionar ambiente favorável à pesquisa, realizar análise independente e imparcial, dar sobrevivência de longo prazo aos trabalhos, desvincular os centros da necessidade de obter lucro, estabilizar equipes interdisciplinares e desenvolver as tecnologias adequadas aos problemas.
Mais de 150 dessas organizações foram criadas no pós-guerra dos EUA, 70 delas patrocinadas pelo Department of Defense (DoD). Muitas foram dissolvidas, mas cerca de meia centena permanece em atividade hoje, em diversas áreas de interesse da administração, como Defesa, Segurança Pública, Desenvolvimento do Judiciário, Energia, Saúde Pública, entre outros. Elas utilizam as ferramentas do setor privado para suas tarefas, de natureza típica da agência governamental que as patrocina, e, portanto, têm acesso privilegiado aos dados dessa agência e dos seus fornecedores. Por isso têm que conduzir os trabalhos com absoluta isenção e confidencialidade que essa parceria com o Estado traz.
Nas apresentações do MITRE, pode-se ler sua missão, que resume bem para que servem essas organizações: “empresa de interesse público, trabalhando com a indústria e a academia para avançar e aplicar a ciência, a tecnologia, a engenharia de sistemas e a estratégia, permitindo que governo e o setor privado possam tomar melhores decisões e implementar soluções para os desafios complexos de importância nacional e global”. Voilà!
Voltemos ao MoD britânico e seus problemas de inovação. Nas conclusões do estudo da Rand, quanto aos atores do mercado de defesa, lê-se claramente que o “MoD deve fazer uma explícita mudança de uma relação cliente/ fornecedor para uma relação orientada para parceria com atores externos. Esforços para mudar a dinâmica cultural seriam complementados pelo estabelecimento de um honest broker, uma organização que pode procurar essas relações ativamente, encorajá-las, e também identificar oportunidades que sejam mais atrativas para o MoD, onde essas parcerias deveriam focar”. Introduz, assim, um eixo que faz girar a tríplice hélice da inovação que envolve governo, setor privado e a academia.
Na era medieval, o honest broker era um árbitro independente para dirimir disputas entre súditos. Aqui, designa as organizações já amplamente descritas no texto e, na falta ainda de um termo melhor, pode ser traduzido por “articulador independente” ou “isento”.
Fica aqui a ideia… why not?