DE VOLTA AO DESENVOLVIMENTO SOBERANO

 

Desenvolvimento soberano é, antes de tudo, MISSÃO. Compõe-se de trabalho maçante, determinado, concatenado, humilde para receber e incorporar críticas, orientado para resultados e provido de recursos que, na sociedade atual, vêm de verbas públicas.

A experiência que o Brasil viveu nos últimos 100 anos funcionou como ensaio positivo. Tirou o País do atraso supremo em que vegetavam os 41 milhões de habitantes recenseados em 1940 numa trajetória que, pobre de consistência, teve amparo generoso da opinião pública e ergueu base de confiança que perdura mesmo depois da acachapante derrocada financeira do Estado, registrada a partir de 1980.

Agora, há algum espaço nas contas públicas e disposição crescente das pessoas para recomeçar a jornada. A renda nacional, na altura de R$ 5 trilhões em 2013, impõe por si ambições maiores. Existe convicção de que o desafio requer ação governamental, sem desprezar a experiência anterior: nenhum governo triunfa sozinho.

Exemplos sugestivos não faltam: em meados do Século XX saltava a vista que a imensidão territorial exigia transporte aéreo maciço para que a potencialidade brasileira pudesse ser desfrutada competitivamente. Era indispensável dotar a Nação de serviço competente para controlar o tráfego de aviões.

A Força Aérea Brasileira (FAB) abriu aeroportos singelos, com pistas de terra batida, comprou no exterior o equipamento de rádio básico e saiu a voar. Mas providenciou simultaneamente algo diferente: criou a melhor escola de engenharia ao sul do Equador, nos moldes do MIT-Massachusetts Institute of Technology, e que funciona desde 1950.

Na década de 1980, enfim, chegou a hora de ousar: a FAB tinha pronto um grande projeto para cobrir o País com radares para controle do espaço aéreo e, quando surgiu oportunidade para contratação, teve determinação para exigir transferência de conhecimento. Hoje, o Brasil desenvolveu e dispõe de um sistema próprio reconhecido entre os melhores e exportado.

A sequência articulada desse investimento emergiu na resposta brasileira para o domínio da Amazônia, com os projetos SIVAM/SIPAM, lançados em 1997 e concluídos em 2002. O Brasil adquiriu autonomia para conceber, desenvolver, operar e manter sistemas estratégicos de inteligência para a sua soberania. O projeto também permitiu que a nossa indústria se capacitasse em soluções de monitoramento e vigilância aéreos, que compõem um sistema de alerta antecipado, instrumento importante para a geopolítica brasileira, e hoje exportado pela Embraer.

Essa realidade ajudou a fundamentar a decisão do governo, ao estabelecer a Estratégia Nacional de Defesa (END), de dar prioridade ao fornecimento local e, mais ainda, de colocar empresas brasileiras no vértice dos projetos mais importantes, comandando aquisições e adquirindo a competência para assegurar autonomia em atividades estratégicas.

É o caso do SISFRON, para controle das fronteiras terrestres contratado pelo Exército Brasileiro, que utiliza amplamente o conhecimento adquirido e cujo fornecimento global está sob responsabilidade de um integrador nacional.

Também no caso da Marinha do Brasil, essa experiência permitiu a adoção de solução nacional já na concepção do projeto SisGAAz, um sistema de sistemas que responderá pela soberania no mar territorial. A solução escolhida poderá buscar nas prateleiras do mercado internacional materiais e até inteligência qualificada e competitiva.

Já o PROSUB, fase mais avançada no ciclo de meio século para obter submarinos nucleares, começou pela aquisição de submarinos convencionais para absorção de tecnologia com participação de empresas privadas nas áreas-chave para o sucesso do programa, desde a questão tecnológica e industrial, até a implantação de grande infraestrutura para sua fabricação – UFEM, inaugurada em Itaguaí (RJ).

Em complemento, a contratação de empresa brasileira para desenvolver e entregar o sistema completo de supervisão e controle do reator nuclear, modelo em terra que servirá para certificação, abrirá caminho para equipar o submarino de propulsão nuclear com solução completa brasileira.

Louve-se o reconhecimento definitivo, pelas palavras da presidente Dilma Rousseff, na cerimônia da inauguração da UFEM, de que investimentos em defesa catapultam o desenvolvimento tecnológico de vanguarda e fortalecem uma indústria estratégica e de valor, base da soberania de um grande País. Não entender essa cadeia de valor, condição necessária ao progresso, levou à estagnação e desmonte das Forças Armadas durante longo período.

O atual leque de programas estruturados da defesa, lembrando os da área espacial e também outros da área civil, como o TAV – trem de alta velocidade, conduzidos de forma estrategicamente organizada e cumulativa, levarão ao desenvolvimento sustentável da indústria nacional e sua atuação a nível internacional.

A rápida transformação ocorrida nos últimos anos em relação às ações voltadas à soberania, com planejamento mais consistente, determinação dos protagonistas e sintonia dos programas com o projeto de um país tecnologicamente evoluído e autônomo, testemunha a recuperação do projeto de desenvolvimento que patinou e quase soçobrou na encrenca financeira do Estado que imobilizou o Brasil por um quarto de século.

Uma oportunidade notável, que vale a pena e precisa ser perseguida com determinação!

Fonte: Presidente da Fundação Ezute – Tarcísio Takashi Muta
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