A trajetória das mulheres nas Forças Armadas e na Indústria de Defesa é marcada por um histórico de exclusão, mas também por conquistas que têm se intensificado nas últimas décadas. Com base em dados recentes, podemos ver como o papel da mulher neste setor tem se expandido, especialmente em áreas como engenharia, tecnologia e liderança, ainda que a barreira cultural e estrutural seja grande.
Historicamente, as mulheres enfrentaram um campo predominantemente masculino, onde sua presença era restringida a funções como saúde, ensino ou logística nas Forças Armadas. A primeira mulher a integrar oficialmente uma unidade militar no Brasil foi Maria Quitéria, em 1822, que se disfarçou de homem para lutar pela Independência do nosso país. Essa heroína, mais de 150 anos depois, se tornou símbolo de coragem, resistência e quebra de barreiras de gênero no setor militar. Porém, até a década de 1980, ou seja, mais de um século depois, as mulheres continuavam não sendo aceitas formalmente nas Forças Armadas.
As conquistas no setor militar, como o ingresso das mulheres na Marinha, no Exército e na Aeronáutica, representam um grande avanço e indicam que estamos trilhando um caminho cada vez mais promissor. Hoje, as Forças Armadas contam com cerca de 37 mil mulheres, o que corresponde a cerca de 10% do efetivo total, um número que reflete tanto a superação de desafios quanto a mudança positiva na mentalidade das instituições. A implementação do alistamento feminino, com a possibilidade de alistamento voluntário a partir de 2025, abre portas para um futuro de mais oportunidades. A crescente adesão das mulheres em áreas como combate e a formação como oficiais combatentes demonstra a transformação de um sistema. É extremamente representativo e gratificante ver mulheres nas áreas operacionais das Forças e mulheres oficial general. Embora ainda haja desafios culturais e estruturais, o panorama atual é de constante evolução e empoderamento feminino nas Forças Armadas.
O ingresso das mulheres na indústria de defesa também tem ganhado espaço, especialmente em áreas como engenharia e tecnologia. De acordo com dados do Conselho Federal de Engenharia e Agronomia (Confea), o número de mulheres engenheiras no Brasil saltou de 13.772 em 2016 para 19.585 em 2018, um crescimento de 42%. Entretanto, a participação feminina ainda é muito abaixo da representatividade masculina. A presença das mulheres na tecnologia e engenharia, com um aumento de 60% entre 2015 e 2022, ainda as coloca em posições de subordinação no setor, com apenas 12,3% das vagas ocupadas por mulheres, segundo o Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (CAGED).
Vale ressaltar que o aumento das oportunidades no setor de defesa, seja para mulheres ou homens, está diretamente ligado ao aumento dos investimentos neste importante setor.
Embora a presença feminina em posições de liderança no setor de defesa ainda seja minoritária, já observamos avanços significativos. Empresas da base industrial de defesa estão cada vez mais percebendo que não há razão para a distinção de gênero e proporcionando mais espaço para as mulheres em papéis estratégicos. A liderança feminina, embora ainda em expansão, está ganhando força e conquistando cada vez mais visibilidade, abrindo caminho para um futuro de mais igualdade e representação no setor. E a prova disso é que nas últimas décadas, pudemos ver mulheres no comando de importantes empresas do setor de defesa no âmbito internacional.
A transformação cultural e a implementação de políticas públicas inclusivas são essenciais para continuar esse avanço, criando um ambiente mais acolhedor e igualitário, onde as mulheres possam assumir plenamente papéis de comando e alta gestão, tal qual os homens. A mudança estrutural necessária está em andamento e, cada vez mais, as mulheres se destacam em funções essenciais.
Além disso, é crucial que as conquistas no acesso à educação e especializações, como o aumento da presença feminina nas áreas de engenharia, tecnologia e estratégia, se reflitam em mais oportunidades de liderança nas Forças Armadas e nas empresas do setor de defesa. O futuro das mulheres neste segmento não depende apenas do aumento de oportunidades, mas da criação de uma cultura de equidade real, que permita à mulher não só ingressar, mas também comandar, inovar e transformar um setor essencial para a soberania e para o desenvolvimento do país. O caminho está sendo pavimentado para um futuro de igualdade e excelência, com mulheres desempenhando brilhantemente um papel cada vez mais ativo e transformador.
Por Jocirene Chagas
Publicado na Edição 177 da Revista Tecnologia e Defesa