Estudos apontam que as guerras do futuro tomarão forma em um campo de batalha expandido, caracterizado por ações rápidas, simultâneas, em todas as dimensões – ar, terra, água, espaço e cibernética. Uma única pausa nas ações pode dar uma enorme vantagem ao inimigo, que rapidamente poderá lançar um contra-ataque. Com o desenvolvimento tecnológico, as forças armadas de hoje tornaram-se mais poderosas e operam sob o conceito de “Campo de Batalha Digital”, suportado por uma infraestrutura digital permitindo obter superioridade através de informações em tempo real, válidas e úteis, conferindo vantagens estratégicas, táticas e operacionais.

Nessa perspectiva, a Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN) dispõe de sistema JISR (Joint Intelligence, Surveillance, and Reconnaissance) permanente que fornece informações e inteligência para os principais tomadores de decisão, ajudando-os a decidirem com base em informações oportunas e precisas. O JISR reúne dados provenientes de diversas fontes, incluindo sistemas de vigilância dos países aliados. Tanto a vigilância como o reconhecimento consideram observação visual (p.ex., de soldados no solo) e observação eletrônica (por ex., de satélites, sistemas de aeronaves não tripuladas, sensores de solo e embarcações marítimas), que são então analisados, transformando informações em inteligência.

Nos Estados Unidos, a Agência de Inteligência de Defesa (DIA – Defense Intelligence Agency) fornece inteligência militar a combatentes, formuladores de políticas de defesa e planejadores de forças no Departamento de Defesa e na Comunidade de Inteligência, em apoio ao planejamento e operações militares dos EUA e à aquisição de sistemas de armas. Ela planeja, gerencia e executa operações de inteligência estratégica e tática em tempos de paz, crise e guerra, cumprindo um papel único na interseção do Departamento de Defesa (DoD) e da Comunidade de Inteligência (IC).

Outra referência interessante são os Centros de Fusão, criados nos EUA a partir de 11 de setembro de 2001, que visam a solucionar dificuldades e desafios do compartilhamento de informações das forças de segurança de diversas esferas (federal, estadual e local) para uso e acesso no tempo apropriado. Os centros de fusão foram criados como mecanismos eficazes e eficientes para troca de informações e necessidades de inteligência, com a maximização de recursos, simplificação de operações e melhora da capacidade de combate ao ilícito, analisando dados de várias fontes. Um centro de fusão é definido como um “esforço colaborativo de duas ou mais agências que fornecem recursos, conhecimentos e informações ao Centro com o objetivo de maximizar as suas capacidades de detectar, prevenir, investigar e responder a atividades criminosas e terroristas”.

No Brasil, as Forças Armadas e agências nas diferentes esferas do Governo atuam em diversos cenários de segurança e defesa nacional utilizando seus próprios sistemas de informação de vigilância e de inteligência para o cumprimento de suas respectivas missões, que podem não estarem integrados e interoperáveis sistemicamente, conforme o desejado. A ausência de soluções integradas adequadas pode acarretar um “vácuo de poder”, dificultando o monitoramento e, principalmente o tempo de reação às ameaças, facilitando a ocorrência de ilícitos e fragilizando o poder de defesa nacional.

O processo de integração sistêmica pode ser entendido sob várias óticas. Entre elas, (1) a ação de interoperar um conjunto de subsistemas que compartilham dados para constituir um sistema maior, de tal forma que os benefícios finais alcançados sejam maiores do que os benefícios fornecidos por cada um deles isoladamente, e (2) a ação de promoção de uma unidade ou elemento central para orquestrar e potencializar a obtenção dos resultados decorrentes desta interoperabilidade e compartilhamento de dados. Um esforço coordenado e integrado representa um desafio tendo em vista a diversidade de sistemas e de base de dados dispersos, de objetivos, de políticas, de procedimentos e de processos decisórios entre as organizações.

A promoção de maior integração dos sistemas de vigilância e de inteligência das Forças Armadas, utilizando meios especializados que suportem a obtenção de dados para a análise de inteligência operacional, permitirá fornecer elementos para apoio à decisão, por meio de uma elaborada consciência situacional, integrada ao teatro de operações, assim como, possibilitará que seja escolhida, planejada e executada uma melhor linha de ação, em tempo hábil, como resposta às ameaças.

Nas operações militares, uma visão abrangente das operações táticas é parte integrante do sucesso da missão.  As operações e sistemas complexos de inteligência, vigilância e reconhecimento são necessários para atingir esse objetivo. Hoje, o Exército Brasileiro (EB) conta com o Sistema Integrado de Monitoramento de Fronteiras (SISFRON), responsável também pela manutenção do monitoramento e dinamização de dados terrestres para as demais instituições fronteiriças. Já a Marinha do Brasil (MB) contará, em breve, com o Sistema de Gerenciamento da Amazônia Azul (SisGAAZ), para o monitoramento das embarcações no mar e nas águas interiores e a Força Aérea Brasileira (FAB) conta com o Sistema de Defesa Aérea Brasileiro (SISDABRA) para o monitoramento do espaço aéreo. Além disso, cada Força possui o seu sistema de inteligência (SIMAR, SIEX e SINTAER – respectivamente MB, EB e FAB) que integram o Sistema de Inteligência de Defesa (SINDE)

Trabalhando em estreita colaboração com agências governamentais, que fazem parte do Sistema Brasileiro de Inteligência (SISBIN), um sistema conjunto de inteligência, supervisão e reconhecimento (ISR) pode contribuir significativamente para avanços importantes em comunicações militares e operações conjuntas, assim como potencializar a atuação de cada Força individualmente, em suas operações singulares.

Além da inteligência operacional, cabe mencionar a importância das inteligências estratégica e tática, bem como da contrainteligência, requeridas para formulação de políticas e planos militares diante da visão prospectiva, cenários e riscos mapeados e planejamento e a condução de operações táticas e a contrainteligência para a proteção e salvaguarda de dados e conhecimentos produzidos nas atividades de inteligência.

A adoção de tecnologia de informação em sistemas, plataformas ou observatórios de inteligência é condição necessária para integrar sistemas diversos e agregar dados multidisciplinares dispersos para gerar a consciência situacional das operações e visões de cenários, com o objetivo que a inteligência militar conduza e oriente o emprego dos meios de combate, as ações políticas e os planejamentos de Defesa Nacional.

 

Delfim Miyamaru, presidente da Fundação Ezute

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