SIM, NÓS PODEMOS

 

Não é à toa que o presidente Barak Obama fez uma visita official de dois dias ao Brasil. Não é por acaso que se discute nossa candidatura ao Conselho de Segurança da ONU.E, nem tampouco, é episódico o grande interesse de empresas e países na economia verde-amarela, quer na condição de vendedores, investidores ou de parceiros comerciais.

No jogo global, não estamos mais na ala dos serviçais. Estabilizamos nossa moeda, engatamos uma marcha firme de crescimento econômico e não há como deixar de notar nossa presença na ordem econômica mundial do século 21.

É nesse contexto que devemos avaliar a realidade e as perspectivas da indústria nacional de defesa. Ainda frágil, consequência de anos de recessão e dificuldades econômicas, a chamada Base Industrial de Defesa está em um momento de expectativas positivas, das melhores, desde os tempos áureos da velha Engesa. Mas, por enquanto, é disso que estamos falando, boas perspectivas.

Este momento tem como marco a criação da Estratégia Nacional de Defesa (END), fruto do atual ciclo sustentável do desenvolvimento brasileiro, desencadeado a partir da estabilidade econômica, e que formou o leito para a retomada,retirando a nação da letargia, do “banho maria” de décadas de incertezas pulverizadas por crises inflacionárias e por grandes ondas recessivas.

Adicione-se ao cenário econômico um ambiente político mais amadurecido, no qual os preconceitos com o tema – alimentados por mais de duas décadas de hiato democrático – estão sendo digeridos pela sociedade. Hoje, ninguém contesta a urgência da construção de um aparato sólido de defesa por um país que passa de coadjuvante a protagonista, em um mundo cada vez mais complexo, no qual as guerras tradicionais se travestem em formatos variados e exigem respostas rápidas e ferramentas adequadas.

Estão, pois, dadas as condições objetivas para que o empreendedorismo e a criatividade do brasileiro – suportadas por um documento de Estado (a END) – permitam a solidificação de uma Base Industrial de Defesa para respaldar uma cultura de planejamento estratégico, na qual a defesa é um dos vetores.

Porém – e sempre existe um porém -, há muitas ondas a serem vencidas antes que se chegue à praia. Na conjuntura atual, convivemos coma guilhotina do corte orçamentário a esbranquiçar os cabelos do nosso ministro da Defesa, dos generais, dos almirantes, dos brigadeiros e de todos nós que, direta ou indiretamente, fazemos parte deste complexo universo militar, industrial e tecnológico.

O que fazer? Não é momento de choro paralisante. Não podemos tartar uma questão estratégica como uma questão operacional do dia a dia. É claro que uma coisa interfere na outra, mas o tratamento haverá de ser desigual. É como na educação, eu preciso decidir se vou ou não estudar, hoje, para ter perspectivas diferentes daqui a alguns anos. Precisamos escolher. Não é porque o Japão estava proibido de ter uma política de se armar que deixou de investir

em setores de tecnologias diferenciadas e fortemente impulsionadoras de desenvolvimento. E que ninguém acredite que o Japão tenha deixado de lado a tecnologia de defesa, hoje de caráter dual inquestionável, no seu processo de capacitação industrial. Para quem duvida, é só olhar para as indústrias naval, aeronáutica e espacial da terra do sol nascente.

Enfrentado o desafio conjuntural do corte orçamentário, há outro de ordem estrutural. O Brasil é a bola da vez, quer seja na condição de comprador, de parceiro comercial ou de polo de investimentos. Na área de defesa, com uma base industrial e tecnológica ainda incipiente, é natural que o apetite dos grandes conglomerados mundiais cresça. E, embora este seja um tema politicamente mais complicado, trata-se igualmente de uma questão de escolha. Tramitam no governo e no Legislativo vários projetos que visam identificar interesses brasileiros estratégicos para o desenvolvimento e  a soberania. Um deles trata da questão da indústria estratégica de defesa, à semelhança do que fizeram potências como os Estados Unidos e a França. Resolvida esta questão, ou melhor, decidida esta questão, as indústrias estrangeiras passam de ameaças a parceiras e grandes contribuintes para o fortalecimento de nossa base industrial.

Além disso, as empresas nacionais haverão de construir um processo próprio de fortalecimento. Não podemos reinventar todas as rodas, e também não temos oportunidades para vários grupos de grande porte atuando nesse setor no Brasil. Falta mercado, e precisamos preservar as empresas-chave de forma que se construam e se fortaleçam relações sintonizadas e de confiança com o governo, condições características do negócio.

É óbvio que os desafios não são pequenos. Mas é evidente que são possíveis de serem enfrentados e vencidos e, por isso, sobram motivos para confiarmos no futuro. Basta inteligência, vontade política e ações práticas para recuperarmos a nossa capacidade de formar gente, de resgatar uma engenharia de projetos nacional, com capacidade de planejamento e pronta para executar estratégias que torne perene e irreversível o desenvolvimento do País. Pegando carona na recente visita do presidente estadunidense ao Brasil, aproveito para parafraseá-lo: “Yes we can”.

Fonte: Presidente da Fundação Ezute – Tarcísio Takashi Muta
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