Vivenciamos atualmente, na chamada Era da Informação, a utilização de tecnologias ágeis de coleta de processamento e armazenamento de grande volume de dados, e o grande objetivo é interpretá-los e transformá-los em informação.

Caminhamos para a Era do Conhecimento, onde os dados são analisados, compreendidos e aplicados. Esse novo tempo demanda a utilização de novas tecnologias para que seja disponibilizada informação qualificada proveniente de diferentes fontes para prover uma visão completa do cenário operacional.

Assim, o surgimento de novas tecnologias tem-se acelerado nas últimas décadas, impulsionado pela necessidade de ferramentas para otimização, agilidade e precisão na atuação de meios que facilitem as rotinas pessoais, que automatizem os processos de produção e gerem uma consciência situacional para a tomada de decisão.

Na área militar, o emprego de tecnologias vem revolucionando e definindo as novas estratégias militares de defesa para enfrentamento de crises e conflitos e para reforçar a segurança e soberania do país.

Para ilustrar a evolução de tecnologias na área de Defesa, podemos usar o exemplo do Sistema de Vigilância da Amazonia (SIVAM), salientando o seu pioneirismo na aplicação de tecnologias quando de sua implantação, há 20 anos, e verificar como o sistema vem sendo modernizado.

O SIVAM se propõe a coletar, tratar e disponibilizar informações que permitam coordenar e integrar ações para controlar, defender o território, o espaço aéreo e o meio ambiente, de forma a dar suporte ao desenvolvimento sustentável e soberano da Amazonia Legal, bem como para possibilitar uma presença organizada, integrada e efetiva na região.

O projeto contou com a participação de militares e civis de diversas áreas de especialização e da Fundação Ezute como integradora de sistemas ao longo das suas fases mais importantes e exigentes. Coube-nos assegurar o domínio do conhecimento pelo Brasil e a aplicação de tecnologia de ponta disponível.

Composto por diversos subsistemas, o projeto permitiu a aplicação de tecnologias inovadoras à época, que no processo natural de modernização foram ou estão sendo evoluídas para as soluções mais recentes visando atender as novas aplicações mais amplas, precisas e com alto desempenho. Para ilustrar, podemos citar alguns cases de inovação realizados ao longo das mais de duas décadas do SIVAM:

Tecnologias Originais Novas Tecnologias
Aeronave R-99 com sensor ótico de reconhecimento Adoção de Veículos Aéreos Não Tripulados (VANT) para missões de reconhecimento
Aeronave R-99 com sensor radar de abertura sintética Adoção de satélites de pequeno porte, em função da miniaturização da tecnologia
Aeronave E-99 de alerta antecipado, com radar de vigilância aérea Modernização das capacidades do radar e integração ao Sistema de Defesa Aeroespacial (SISDEABRA).
Unidades de Telecomunicações em diferentes frequências (HF, VHF e UHF) Possibilidades de comunicação na região com elementos digitais e com rádio definido por software
HFDF – High-frequency direction finding, localizador de emissões de frequência Capacidade de detecção de emissões de baixa potência, além de capacidades de novas possibilidades de demodulação de sinais de comunicações
AGDLIC – Air-Ground Data Link Interface Controller, para comunicações seguras ar-solo Projeto LinkBR22, enlace automático de dados de defesa, para Comunicação segura entre unidades participantes da rede terrestre e da rede aérea
Sistema de Controle de Tráfego Aéreo híbrido, composto de subsistemas norte-americanos e X4000 nacional Modernização, com a implantação do SAGITARIO, sistema de controle de tráfego aéreo brasileiro implantado nos principais centros de controle
Implantação de estações VSAT (Very Small Aperture Terminal) nos órgãos da região Amazônica Com o lançamento do satélite brasileiro SGDC, o Brasil dispõe de comunicação em Banda Larga em todo território nacional
Radio Determinação – maletas dotadas de antena satelital e microcomputador para transmissão de coordenadas e pequenos textos. Tecnologia de comunicação satelital tipo manpack em banda larga para transmissão de voz e dados, de forma precisa, segura e com alta disponibilidade.

 

Vale relembrar que a concepção e desenvolvimento do SIVAM aconteceram na década de 90, quando tínhamos como tecnologias emergentes, os disquetes e DVD, o celular “tijolão”, sistemas operacionais Linux e Windows95, o início da conexão à internet via serviços WWW (World Wide Web) e protocolos HTTPS (Hypertext Transfer Protocol Secure).

No seu aspecto construtivo, o SIVAM adotou as tecnologias habilitadoras e processos de engenharia de software e de sistemas, vigentes à época:

  • CORBA (common object request broker architecture), desenvolvimento com recursos para prover processamento distribuído e interoperabilidade. Em nível de software, de sistemas computacionais desenvolvidos em diferentes linguagens de programação, eventualmente por diferentes fornecedores.
  • DOD-STD-2167A e MIL STD-498, normas com definição de processos estruturados para a documentação e desenvolvimento de softwares de complexos sistemas de defesa.
  • Sistemas de Geoprocessamento, capacidades de obtenção de dados georreferenciados (com posição) e então visualização e processamento em sistema de informação GIS (geographic information system).
  • Inteligência artificial, nos anos 1990 e 2000 os conceitos eram bem teóricos, mas os sistemas de vigilância terrestre e ambiental do SIVAM introduziam algoritmos de redes bayesianas.
  • Fusão de dados, sendo possível receber dados de diferentes sensores, com diferentes características técnicas e operacionais e a partir de estruturação das informações a serem obtidas, geração de conteúdo histórico e em tempo quase-real para o planejamento, acompanhamento e decisões correntes das operações na região.
  • Supercomputador (INMET), permitindo armazenamento de todo o histórico de previsões, maior rapidez e precisão no processamento de dados.

Nos dias atuais, as tecnologias para construção de sistemas evoluíram, tendo à disposição novas ferramentas e processos para componentização de software, desenvolvimento de aplicativos para ambientes em memória virtual (Virtual Memory) e processamento por “containers”, etc.

Com relação às normas de engenharia de software para sistemas de missão crítica, tem-se a ISO/IEC 15504 e ISO/IEC 12207, que evoluíram dos padrões adotados. De maneira mais atual, pode-se citar que foi gerado o ambiente necessário para adoção de práticas de desenvolvimento ágil em sistemas complexos.

Diante deste histórico de evolução, cabe destacá-lo como caso de sucesso na absorção e transferência de tecnologia para a indústria e para organizações públicas nacionais. O domínio tecnológico e a capacitação da engenharia nacional têm sido um determinante para a evolução continuada do sistema para atender as necessidades do século XXI.

 

Delfim Ossamu Miyamaru, presidente da Fundação Ezute

Pular para o conteúdo